
Geralmente quando lidamos com objetivos, necessitamos estabelecer metas, criar etapas e visualizar este processo que nos levará ao resultado desejado. Quem quer algo normalmente planeia desta forma. Então, aqui não estamos falando de vontade, certo? Estamos tratando da mente racional motivada por alguma necessidade emocional, seja ela de conforto, segurança ou mesmo os instintos mais básicos de sobrevivência.
Crowley definiu que “magia é a ciência e a arte de causar mudança de acordo com a vontade” – aqui estamos certamente a tratar de outra coisa. Se é arte, requer criatividade; se há ciência, requer método. A junção dos dois parece sugerir o uso de um ou mais métodos criativos. E tudo isso de acordo com a vontade.
Quando os thelemitas se encontram seja presencialmente ou de forma virtual, costumam exercer a sua “preguiça” (apenas uma brincadeira aqui) expressando um “93!” que encerra a máxima thelêmica: Faz o que tu queres e será o todo da lei. Mas que lei? Sim… Amor é a lei. Amor sob vontade.
Que vontade é esta? Bem, a resposta a esta pergunta é o objetivo de todo thelemita que se preze. Cada um terá que encontrar esta resposta em si mesmo. No entanto, parece haver um consenso geral que nos leva a crer que esta vontade expressa no Livro da Lei não se refere a algo meramente pautado em desejos e necessidades. É algo mais abrangente. Gosto da palavra abrangente mais do que a palavra superior. Parece-me que a verticalidade nas coisas sugere mais impossibilidades do que a horizontalidade. Ver de forma horizontal, ver em ondulação. Sim, vai chegar um momento em que não veremos mais que o horizonte, no entanto sempre poderemos caminhar em direção a ele.
Então, parece-me que necessitamos de usar a nossa criatividade de forma metódica para conseguir realizar mudanças de acordo com uma vontade mais abrangente.
Acordo sugere alinhamento. Combinação entre duas ou mais partes. Dois ou mais aspectos. Esta vontade mais abrangente costuma ser percebida como leis da natureza ou do universo. Não estou a afirmar que pode ser apenas isso. De qualquer forma, para realizar magia, teremos que “nos alinhar” a algo mais abrangente.
“Pois vontade pura, desembaraçada de propósito, livre da ânsia de resultado, é toda via perfeita.” (AL I:44) – e aqui a lei nos vem com este pau de dois de bicos: vou me alinhar com algo mais abrangente que é perfeito quando não serve para nada? É… parece-me que sim, apesar de entender que não é bem isso. É que tendemos a sentir desta forma em função das nossas limitações. Separe-se do resultado de suas ações (conscientes, obviamente e dentro deste contexto). Na sabedoria da incerteza, os propósitos ocultos seguem seu próprio curso.
No fim, percebo que a maior mudança que a magia causa não parece estar originariamente naquilo que podemos ver com as retinas. Esta mudança, este alinhamento que potencializa a manifestação está certamente dentro de nós.
Entenda que não quero dizer com isto que a manipulação de energias através dos mais diversos métodos existentes não funcionem. Eu sei que funcionam. O que aqui estou sugerindo, é uma via de “automação” pelo seu simples pensamento. Isto sim seria algo bem interessante… não acha?